A electropop está rejuvenescida, variada, cheia de personalidade e recomenda-se! Uma leva de nomes no feminino insurge-se com aparente controlo sobre o que faz e como o faz. Eis algumas das novas vozes que têm despoletado do lado de lá e do lado de cá do Atlântico.
Lady GaGa
É loura, escreve sobre fama, dinheiro e erotismo. Os que gostam dela descrevem-na como uma fusão de Madonna, Kylie Minogue, Blondie e Scissor Sisters. A crítica diz que é mais uma cópia de Britney Spears e Christina Aguilera, com algumas presunções. Ela não parece importar-se. Lady GaGa, ex-Joanne Stefani Germanotta, 23 anos, nova-iorquina, já é a estrela que ambicionava ser. Apesar de ter iniciado a carreira nos bastidores – a escrever canções para as Pussycat Dolls e Britney Spears –, as luzes da ribalta focaram-na em Abril de 2008, altura em que lançou o álbum The Fame. A partir daí, as oportunidades seguiram-se em catadupa: cantou na eleição da Miss Universo 2008, momento-chave para que o seu primeiro single, Just Dance, começasse a fazer furor no seio da dance pop. Goste-se ou não, o álbum de estreia, uma combinação de disco, pop electrónica e rock, com um toque de burlesco, já alcançou um lugar cimeiro nos tops de vendas em todo o mundo.
É a terceira artista, em 16 anos de história do top 40 Mainstream, a ter três singles no primeiro lugar num álbum de estreia. Depois de Just Dance e Poker Face, a música Love Game chegou ao primeiro lugar da Billboards Mainstream. The Fame mantém-se no top 5 de álbuns Billboard 200. Depois de Ace of Base (1993) e Avril Lavigne (2002), é ela quem alcança este feito. Quanto ao seu nome artístico, é provável que soe familiar… isto porque, Lady GaGa é uma referência à música Radio Ga Ga, dos Queen.
A roupa? Difícil de descrever. Tem um estilo próprio e inovador, sempre irreverente, com muita atitude e glamour. Extravagante para a maioria. Mas a graça está toda aí. Lady GaGa é uma artista na moda. Seguindo a linha fashion destruction, conseguiu atrair para si todos os holofotes: cores fortes, franja, um laço de cabelo ao estilo Minnie, perucas e combinações exóticas, abusando sempre dos bodies e das meias calças. No fim de contas, cada performance sua é uma pequena obra de arte pop. Os seus ícones de arte são Peggy Bundy e Donatella Versace.
La Roux
Tiveram uma estreia ambiciosa e auspiciosa. A face visível deste duo originário de Brixton, Inglaterra, é a vocalista e compositora de 21 anos, Elly Jackson – a ruiva que dá nome ao projecto. Ben Langmaid é o teclista e produtor. A dupla veio provar que a invernia synthpop e o retrofuturismo desenterrado dos anos 80 estão longe da exaustão criativa, em parte graças à precisão acutilante dos sintetizadores e à personalidade vocal de Jackson, metálica, mutante e ardente. O álbum de estreia, homónimo, tornou-se um dos mais aguardados de 2009. Primeiro foi Quicksand. Depois, In For The Kill. E, recentemente, Bulletproof. Estes três singles começaram por circular online e a aceitação foi imediata. Disco, pop e electrónica fundem-se na perfeição. Um cocktail que marca uma independência da pop mainstream, com fortes influências de nomes como Depeche Mode, Daft Punk, Eurythmics, Prince e Michael Jackson.
Começaram por abrir os concertos de Lily Allen, mas já sobem aos palcos sozinhos, jogando emoções debaixo de uma parafernália dançável. In for the Kill alcançou o 2º lugar no Uk Single Chart e 9º no Eurochart.
A imagem da metade feminina dos La Roux herda traços dos dias mais estilizados e andróginos da também ruiva Annie Lennox, assim como de David Bowie. O olhar é ao mesmo tempo defensivo e desafiador. A sobreposição de roupas e a maquilhagem colorida completam o visual.
Little Boots
Compatriota de La Roux e sua concorrente directa. A cantora, teclista e compositora britânica Victoria Hesketh, de 25 anos, escolheu o nome de código Little Boots para se lançar a solo no universo electropop. Depois de uma passagem falhada pelo concurso Pop Idol britânico na adolescência, seguida de uma temporada a cantar jazz na Europa e de uma experiência curta numa banda de indie-pop, Hesketh começou a despejar canções para o Youtube e o MySpace. Pouco depois, estava a registar o álbum de estreia, Hands, com o multifacetado Greg Kurstin, compositor, músico e produtor americano, tendo sido avançada pela imprensa britânica como a «next big thing» da pop no feminino. Stuck on Repeat e New in Town são as canções de que se fala, demolidoras e intoxicantes na pista de dança, convites para um mundo sintetizado, e alegremente pop. Há quem diga que o álbum não passa de uma mescla de Kylie Minogue, Goldfrapp (fase Supernature) e Lily Allen, com um resultado não muito impressionante. Mas Little Boots pretende demarcar-se desse rótulo.
O nome é retirado do filme Caligula (que significa Little Boots, em latim). Hesketh toca piano, stylophone (órgão electrónico de bolso) e um instrumento electrónico japonês, chamado Tenori-on.
Mais uma loira com atitude, estilo muito próprio e originalidade. As suas roupas são brilhantes e a sua maquilhagem carregada, fazendo lembrar o ambiente puramente caleidoscópico de uma discoteca. O imaginário proposto por Little Boots faz recuar ainda à nostalgia dos anos 80. As suas influências (visual e vocalmente) incluem David Bowie, Gary Numan e Kate Bush.
Florence and The Machine
Florence Welch, 22 anos, foi a escolha dos críticos nos Brit Awards e um dos destaques da tabela de apostas para 2009 da BBC. Estreia-se com o álbum Lungs. Ela e os Florence and the Machine são um só, a derivação nominativa é simplesmente um mero detalhe artístico. A excentricidade da voz de Florence homenageia a cada vez menos esquecida Kate Bush e, em parte, a islandesa Björk, levando mil e um mundos diferentes para a música. Musa folk e ao mesmo tempo um monstro da soul, branca, desgarrada, festiva e forte, eis a voz e a alma da banda. Percussões tribais adaptadas ao pop-rock inconformista, um certo revisionimo barroco e uma atitude punk tornam-se os aspectos mais salientes. Singles como Kiss With a Fist e Rabbit Heart (Raise it Up) são destaque.
A escolha do nome do álbum prende-se com a simbologia que a banda atribui ao órgão: há algo de mecânico e físico nos pulmões e um forte controlo sobre eles quando a voz é o instrumento com o qual se trabalha. A obsessão de Welch com essa imagem estranha e ao mesmo tempo carnal é marcante. O título refere-se ainda a Between Two Lungs, uma das faixas do disco.
Partilha a cor do cabelo com La Roux, mas as parecenças não ficam por aqui. Apesar de mais feminina e de explorar uma postura mais teatral, o estilo é igualmente arrojado, fresco e provocador.
POR JOANA CLARA
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